sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Reportagem Especial - Parte 2

O Blog Circo News continua com a série de reportagens sobre o maior acidente em circos no Brasil e uma das maiores tragédias circenses do mundo. O terrível acidente, que matou 503 pessoas, completou 50 anos em dezembro de 2011. Nesta semana você vai ver a dor e os relatos de sobreviventes e também o surgimento de um personagem que nasceu em meio às cinzas do Norte Americano: O Profeta Gentileza.


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A DOR DE QUEM SOBREVIVEU


Muitas pessoas sobreviveram ao incêndio, outros foram salvos por qualquer acaso que os impediu de conferir o espetáculo. O dono do circo, Danilo Stevanovich, por exemplo, não abandonou o negócio e continuou no ramo circense até sua morte, em 2001, conforme conta Mauro Ventura, autor do livro "O Espetáculo Mais Triste da terra", lançado no ano passado e mostrado na edição anterior do Circo News.  Hoje, a família ainda está à frente de duas lonas: Le Cirque e Bolshoi.



Mas nem todos tiveram a sorte de se refazer como os Stevanovich. Maria José do Nascimento Vasconcelos, a Zezé, viveu durante anos com circofobia e constantes desmaios, diagnosticados por médicos como uma epilepsia adquirida. Salva pela elefanta Semba, Zezé adquiriu mesmo foi o gosto pelos paquidermes e coleciona em casa miniaturas dos animais. Há também os personagens que mostram a superação, caso de Lenir Ferreira de Queiroz Siqueira, que perdeu o marido e os dois filhos no incêndio, e ainda cultiva a alegria de viver.

Houve também os que se salvaram por algum acaso – ou interferência divina, para os mais supersticiosos. É o caso de Rosane Coelho, que tinha reservado o domingo para ir ao espetáculo, mas por conta de uma febre, foi para um lanche de família na casa de um tio.

“Na véspera, eu, meus pais e minha irmã tínhamos dito à nossa avó que iríamos ao circo, o que  não aconteceu”, conta. “Quando soube do incêndio no dia seguinte, minha avó ligava desesperadamente para a minha casa, mas não atendíamos porque estávamos na casa do meu tio. Ela ficou desesperada”, acrescenta, lembrando das kombis que passavam com voluntários pedindo gelo nas casas para ajudar os feridos.

Os sobreviventes do incêndio, guardam na memória as cenas de terror. Em chamas, a lona, que era feita de material altamente inflamável, caía em gotas de fogo sobre a plateia, que tentava escapar em vão. Salva por um soldado do Corpo de Bombeiros, a aposentada Lenir Ferreira, hoje com 75 anos, perdeu o marido, os dois filhos, de dois e três anos, e o bebê que esperava.
- Lembro que o soldado gritou: 'Quem está com vida aí, levanta a mão'. Com muita dificuldade, eu consegui levantar o braço. Eu não consigo esquecer. Parecia que um guarda-chuva se abriu espalhando gotas de fogo sobre a gente.
A aposentada traz no corpo as marcas da tragédia. Ela ficou nove meses internada para se recuperar das queimaduras mais graves, que causaram a perda de um dedo e de parte do couro cabeludo. Até hoje, Lenir usa uma peruca e convive com cicatrizes por todo corpo.
- Minha vida ficou totalmente diferente. É como se eu tivesse nascido de novo. Eu queria viver e consegui. Apesar da tragédia, posso dizer que sou uma pessoa feliz.
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UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO

Desde o dia 17 de dezembro de 1961, o verbo superar ganhou sentido especial na vida de Magali Odila de Farias Nunes Martins, de 78 anos. Sobrevivente do incêndio, ela precisou vencer a dor de perder, de uma só vez, o marido e o sogro, além de cuidar do casal de filhos.

— Meu marido deu a vida para salvar nosso filho. Foi uma barra pesada de segurar, ainda hoje sofro nesta época do ano. No início, eu não conseguia sorrir. Um dia, dei uma gargalhada e vi a alegria das crianças. O mesmo aconteceu quando parei de vestir o preto do luto e voltei a usar roupas com cores. Precisei reaprender a sorrir para ajudar meus filhos a superar o trauma — diz a aposentada.
Filho caçula da aposentada, o empresário Carlos Alexandre Nunes Martins, de 56 anos, diz que só com o amor que recebeu da família conseguiu superar o trauma.
— Eu era muito pequeno. O que me marcaram foi o amor e a união da família e a força da minha mãe — diz Carlos.

O local do acidente, onde atualmente está localizada a Policlínica do Exército de Niterói, na Praça do Expedicionário, guarda mais um símbolo de superação da tragédia. Depois de 50 anos, abriga o primeiro memorial às vítimas do incêndio, inaugurado no jardim da instituição.
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O SURGIMENTO DE UM PERSONAGEM:

O PROFETA GENTILEZA


O incêndio do Gran Circo Norte-Americano fez surgir o profeta Gentileza, figura conhecida por suas famosas mensagens nas pilastras do Caju. Reza a lenda que o excêntrico personagem enlouqueceu ao perder a família na tragédia, mas Mauro Ventura desmente o mito em seu livro. José Datrino, nome verdadeiro de Gentileza, trabalhava com uma frota de caminhões.
Quando o circo foi incendiado, ele recebeu um “chamado divino”, e deveria “consolar os desconsolados” que perderam tudo com a tragédia. A partir de então, Datrino virou o profeta Gentileza. Deixou a família, pegou seu caminhão, comprou 200 litros de vinho e se dirigiu à Av. Rio Branco, em Niterói, para oferecer, de graça, um copo da bebida como consolo para quem quisesse. Gentileza também montou uma casa no local do incêndio, plantou flores e fincou uma placa: “Bem-vindo ao Paraíso do Gentileza. Entre, não fume, não diga palavras obcenas”. Viveu durante quatro anos no local consolando as pessoas que por lá passavam.
Outros trabalhos afirmaram que Gentileza preveniu muitas mortes ao oferecer palavras de consolo aos parentes e amigos que iam ao local do incêndio – onde ele estabeleceu morada – para tentar suicídio na linha do trem que passava por perto.  Quando saiu do local do acidente, Gentileza peregrinou pelo país.
Em 28 de maio de 1996, Gentileza faleceu aos 79 anos. Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo, e mais tarde cobertos com tinta de cor cinza. A eliminação das inscrições foi criticada e posteriormente com ajuda da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, foi organizado um projeto chamado Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os murais das pilastras. Em maio de 2000, a restauração das inscrições foi concluída e o patrimônio urbano carioca foi preservado.
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NA PRÓXIMA SEMANA:
A ELEFANTE QUE SALVOU VIDAS, O CHORO DO PRESIDENTE E A AJUDA DE UM NOVO  E PROMISSOR CIRURGIÃO PLÁSTICO 

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